A 30.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP30) terminou este sábado (22), em Belém, sem avanços significativos no abandono dos combustíveis fósseis, um dos temas centrais e mais polémicos das negociações. Apesar disso, os quase 200 países presentes conseguiram chegar a um entendimento final, designado “Mutirão Global”, evocando um conceito indígena que simboliza o esforço colectivo em prol de um objectivo comum.
O acordo, alcançado após alongar as negociações por mais um dia além do previsto, foi recebido pelo Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, como uma demonstração de que o multilateralismo continua vivo. Contudo, o secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas para o Clima, Simon Stiell, reconheceu publicamente a frustração de várias delegações.
No centro dessa insatisfação está o facto de ter sido excluída do texto final a proposta brasileira, apoiada por mais de 80 países — de criar um roteiro formal para o abandono dos combustíveis fósseis. A iniciativa acabou por cair devido à forte resistência de países como a Arábia Saudita e outros produtores árabes, além da Rússia, Índia e China.
“Sei que alguns de vós tinham ambições maiores”, declarou o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, citado pelo Notícias ao Minuto, perante o plenário final. O diplomata garantiu, no entanto, que a presidência brasileira continuará a promover as discussões sobre o tema até à próxima cimeira, dentro de um ano, embora sem o peso político de uma decisão oficial adotada numa conferência da ONU.
A reacção mais contundente veio da Colômbia, que tem assumido uma posição de liderança na defesa da eliminação progressiva dos combustíveis fósseis. Bogotá, que já anunciou a realização de uma conferência internacional sobre o tema em abril, criticou abertamente a ausência de qualquer referência explícita aos combustíveis fósseis no texto aprovado.
Além deste impasse, a COP30 marcou-se ainda por compromissos reforçados no financiamento para adaptação e pela criação de um novo mecanismo de transição justa, destinado a apoiar economias em desenvolvimento no processo de mudança para modelos de energia limpa. Contudo, para muitos observadores, os resultados ficaram aquém do necessário para travar o avanço da crise climática.